sábado, 25 de abril de 2015

Vaidade zero

"-Não desistas, Sarah! Tu consegues!- gritámos.
Funcionou. Continuou a correr. Porém, cinco quilómetros depois, o sofrimento de Sarah atingia novas profundezas. O esforço estava a ser tão intenso que lhe começaram a correr lágrimas pela cara. A natureza dos nossos incentivos verbais, passaram do encorajamento para a súplica. 
-Não desistas, Sarah!- disse um atleta.- Estás quase lá. 
Adoro interagir com as pessoas quando elas estão no estado mais exposto- quando todas as camadas de pretensão e vaidade foram despidas e deixadas algures para o caminho. A maratona arranca sem piedade as camadas externas das nossas defesas e deixa o humano cru, vulnerável e nu. É aqui que se consegue entrever honestamente a alma de alguém. Todas as inseguranças e defeitos estão à mostra, à vista de todos. Não há comunicação mais real, nem expressão mais honesta. Não nos podemos esconder atrás de nada. A maratona é o grande equalizador."
Dean Karnazes, Quem Corre por Gosto

Não sei se é exatamente assim. Não sei se permite tamanha transparência. Muito embora me pareça demasiado literário, demasiado poético, a verdade é que não preciso de percorrer 42k para reconhecer que tem um fundo de verdade. Às vezes nem preciso de chegar aos 10k para sentir essa humildade. Perante o esforço cai-me pelos pés a capa do orgulho que fui ganhando com as conquistas adquiridas. Que interessa já ter percorrido 21k quando me custam agora estes 5k?
Há dias em que custa demasiado correr. Hoje foi assim. Demasiada chuva, vento ininterrupto, pernas em movimento que não me tiravam do lugar. Há dias assim. Em que ficamos na dúvida.




1 comentário:

  1. São treinos assim, dificieis, que nos moldam o carácter! Se correr fosse fácil, não teria MESMO tanta piada :)

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